domingo, 18 de agosto de 2013

(trans)bordar

    Quando menos se espera. Ao abrir os olhos em uma manhã ensolarada; observando a paisagem se transformando através da janela; durante o café amargo da tarde na varanda; passeando com o cachorro pela rua vazia; ao visitar a vó num domingo chuvoso; lendo pela sétima vez o livro de cabeceira; experimentando o novo de novo.
    Não tem hora. Te surpreende, em súbito, estás fascinado.
    Te move, te faz viver; é o que você faz sem perceber.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

a sutileza de leonardo ramadinha

Conhecido por fotografar uma natureza solitária e não identificável, Leonardo Ramadinha é um fotógrafo simplório e sensível, que busca na sutileza capturar situações cotidianas.

Capilares #10, da série Capilares

Ao construir cenas românticas e, muitas vezes, lineares, transforma o observador em sujeito vivente da imagem e não somente em um mero espectador. Suas séries fotográficas possuem títulos poéticos como "Parte de Mim é Mar", "Topografias de um Sonho" e "Instantes Depois da Tempestade".

Ramadinha já participou de mais de 50 exposições coletivas e individuais, no Brasil, Argentina, EUA, Colômbia, Alemanha e Eslovênia.

Quando o Carnaval Passar, da série Diários

Bem Guardado, da série Love Story

Marés #3, da série Parte de Mim é Mar


A equipe do FalaCultura conseguiu uma entrevista com o artista e compartilha em primeira mão com vocês, leitores:

- Vi que você se formou em Comunicação Social, como foi que surgiu a idéia de trabalhar com fotografia?

Na verdade isso acabou acontecendo, não foi um desejo direto. Eu sempre gostei de fotografar mas não passava pela cabeça levar isso a sério como forma de expressão ou carreira artística. Foi tudo meio sem querer. Durante um período da faculdade eu acabei indo fazer um curso de fotografia de dois meses e fiquei dois anos estudando. Fui emendando um no outro. A fotografia me abriu a cabeça para ver outras coisas e mais ainda para ver as coisas de uma outra maneira. Aí, não tinha mais como largar. Eu comecei a ver que aquilo poderia ser uma forma de expressão de muita força que me interessava bastante.

- Você trabalha bastante com a natureza, com espaços vazios e com a não-identificação destes e de personagens. O que você busca mostrar com isso?

A fotografia de um modo geral carrega um ranço de ter sempre que ser documento de alguma coisa. Acho essa questão de limitar a “fotografia como o registro e documento do real” muito chato e uma grande mentira. Me interessa muito mais a fotografia como um trampolim para uma outra coisa, uma outra interpretação, uma outra viagem. Me interessa produzir uma obra aberta de interpretações, uma coisa híbrida que permita a quem está vendo experimentar sensações que não necessariamente sejam as mesmas que me motivaram a produzir aquela imagem ou aquela série. Existe um viés, claro, uma linha de pensamento na minha cabeça que sugere uma criação e uma possível leitura, mas eu prefiro sugerir isso de uma forma delicada e sutil no meu trabalho do que deixar explícito, entende? Provavelmente por isso essas imagens não sejam identificadas justamente para não deixar claro e não amarrar. Aquela imagem pode ter sido feita ontem no centro da cidade ou há dez anos atrás durante uma viagem a algum lugar. O vazio é uma constante no meu trabalho e me interessa muito como conceito porque ele pode ser carregado de outros significados. Uma nova possibilidade de interpretação. É uma experiência de usar a fotografia para fazer o registro da ausência, daquilo que não está ali.

Eu, Você e os Outros, da série Parte de Mim é Mar

- Você diria que o seu trabalho é conceitual, ou puramente estético?

Não tenho muito interesse num trabalho que seja somente estético e decorativo. Todo trabalho no fundo tem um conceito. Quero o meu trabalho como uma forma de expressão pessoal e sempre tento juntar isso ao conceito daquilo que penso. Esse conceito algumas vezes surge depois das imagens feitas e acaba virando uma outra coisa, o que também é interessante. O conceito e a idéia inicial algumas vezes podem servir como um estopim para um outro pensamento que ainda está guardado e não apareceu.

- Como costuma ser o seu processo criativo? Como normalmente surge a idéia de fazer determinada sessão de fotos?

Olha, não existe uma regra com relação a isso. No meu caso, é até estranho, mas ele acontece ao contrário. O processo surge muitas vezes a partir de uma determinada imagem. Eu simplesmente fotografo. Olho uma cena, um espaço, alguma coisa e por algum motivo que eu não sei explicar qual, eu fotografo aquilo. Na verdade, aquela cena me atrai e eu vou lá e guardo. Depois olhando essas fotografias de arquivo começo a juntar imagens e a trabalhar as idéias. Existe uma questão inconsciente no meu trabalho e isso abre a possibilidade do conceito vir depois da imagem feita. Uma imagem pode levar anos guardada. Acho que daí que vem essa questão que você colocou da não identificação dos espaços, do vazio, do não-lugar da imagem. Esse processo de criação me permite descobrir outras coisas subjetivas que muitas vezes se mostram fortes nesse instante. Construir a partir de imagens de arquivo, pra mim é quase como um garimpo, ir olhando juntando pedacinhos de uma outra história e reescrever a partir daí. E quando essas séries começam a aparecer e o trabalho tomar corpo é uma descoberta e uma surpresa pra mim. Toda essa loucura me permite juntar imagens que no ato fotográfico não foram pensadas para trabalhar juntas e criar uma outra história. Algumas são imagens da vida cotidiana, cenas banais, vestígios que quando saem das circunstâncias banais acabam por criar um outro valor e juntas viram uma nova possibilidade de interpretação. Minhas fotografias não têm uma leitura única. Eu não sou ingênuo de achar que alguém que veja o meu trabalho vai pensar exatamente aquilo que pensei quando criei. Nem quero isso. Existe uma poética e uma carga emocional grande ali, é a minha maneira de ver as coisas. E fico feliz de poder expor isso e as pessoas buscarem referências em si mesmas para criar uma nova leitura. Quero produzir uma obra aberta, alguma coisa que permita uma reflexão sobre um assunto e não algo fechado, formatado com uma interpretação única.

Assim Construí Meus Sonhos, da série Love Story

- Onde você busca inspirações?

Tudo pode ser inspiração. Eu na verdade sou um apaixonado pela imagem, a fotografia é conseqüência. Posso me inspirar numa paisagem, numa tela, numa palavra. Aliás a palavra é um elemento que tem certa força no meu trabalho, algumas vezes como um título outras chegando até a aparecer junto a imagem. Em alguns trabalhos eu uso a palavra como um elemento de criação que sugira uma referência com a fotografia. Outra coisa que me inspira muito é a delicadeza. A delicadeza que aparece na vida cotidiana, no urbano, em cenas banais, comuns e que quando trabalhadas despertam uma potencialidade enorme e aí deixam de ser banais.

De Todas as Coisas Que Perdi Pelo Caminho Uma Delas Fui Eu Mesmo, da série Pelo Caminho

- Quais suas influências artísticas?

Todo artista que eu gosto, de alguma maneira acaba por virar uma influência. Em fotografia Miguel Rio Branco, Mario Cravo Neto e Claudio Edinger são hors concours. O trabalho de apropriação da Rosângela Rennó também me é muito interessante. A poética, a delicadeza e a força dos trabalhos do Nazareno e do Leonílson são emocionantes. Adoro arte urbana. Sou muito fã do trabalho do Zezão; é maravilhoso. Eu andava por São Paulo olhando para os muros procurando trabalhos dele. Fico feliz de vê-lo circulando mundo afora e ao mesmo tempo levando o seu trabalho para a periferia de São Paulo com o mesmo respeito e cuidado. Esse também é o papel do artista. Enfim, todos esses são influência. Uma coisa que eu quero muito é um dia poder ter um trabalho de cada um deles na parede da minha casa. Olhar pra parede e saber que cada um daqueles tem uma importância enorme no meu trabalho.

Ramadinha, atualmente, é colaborador da revista de arte visuais DasArtes e um dos editores da revista eletrônica, também de artes visuais, Verbete.art. O artista é representado no Rio de Janeiro pela Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea, na qual, em outubro, realizará uma exposição individual (fiquem ligados pois nós cobriremos a exposição!).

Confira um pouco mais do seu trabalho em seu site pessoal!


[Texto originalmente produzido para o site FalaCultura e publicado em 26 de janeiro de 2012]

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

cinco mostras em uma só exposição: caos e efeito

Não haveria nome melhor para descrever: caos e efeito (cujo título ironiza com o fato de não ser possível atingir as causas, mas apenas - parcialmente e de forma diversa - os efeitos). Abarcando temas e questões do mundo contemporâneo, a exposição reúne, com grande êxito, diversas visões da produção artística nacional. Com um toque de ousadia, o Itaú Cultural reuniu cinco mostras – com cinco curadorias! - em uma única exposição. A cada curadoria, uma nova sensação, um novo mundo.

É sempre inquietante pensar em arte contemporânea. Dúvidas a respeito da liguagem artística, o terreno da produção, o quesito histórico embutido, o estético e o conceitual, estão sempre permeando a mente do público. E é exatamente neste ponto que a Caos e Efeito visa apontar. Após ser realizada uma pesquisa sobre os dez curadores mais atuantes no cenário brasileiro, cinco deles – Fernanco Chocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos, Paulo Herkenhoff e Tadeu Chiarelli - foram convidados para realizar a Caos e Efeito e trabalhar em frentes temáticas, elaboradas como um projeto colaborativo. A exposição abriga aproximadamente 150 obras de 81 artistas.


Tadeu Chiarelli

O fio condutor da mostra Projetar o Passado; Recuperar o Furuto de Chiarelli é a tênue linha entre o documental e o ficcional. É a forma como os artistas lidam com o passado e elaboram fatos da história coletiva e/ou individual. Com pinturas, vídeos, fotografias e cartazes, os artistas brincam com a noção de eventos construídos e um passado capturado. Algumas vezes, de uma forma quase documental, como o trabalho da Lais Myrrha – Bestiário, 2005 -, na qual, em uma televisão, observa-se uma junção de diversas reportagens de jornais montadas, uma acima da outra – tanto imagens como sons. Outras vezes, capturada quase que em forma de memórias pessoais, como no trabalho do Alberto Bitar – Sobre Distâncias e Incômodos e Algumas Tristezas, 2009 -, quando o artista narra um dia em sua residência, como memórias de um tempo transitório, se esvaindo; lembranças projetadas no lar, no tempo, nos objetos da casa.

Alberto Bitar - Sobre Distâncias e Incômodos e Algumas Tristezas, 2009


Moacir dos Anjos

As Ruas e as Bobagens contém obras que enfatizam o cotidiano, rompendo a fronteira entre o ambiente artístico e o dia-a-dia, os artistas buscam mostrar como os objetos da vida comum também podem ser vistos como arte, poetizando o urbano. Esta curadoria é interessante exatamente por expor obras que criam uma relação de identificação com o observador. Isso pode ser sentido na instalação de Marepe – Rio Fundo, 2003 – na qual busca representar mesas de bar, com bedidas alcóolicas dispostas; e nos panfletos de Paulo Nazareh – Série de Panfletos, sem data – na qual ele lança propostas de fruição no espaço urbano.

Paulo Nazareh – Série de Panfletos, sem data


Lauro Cavalcanti

Eu Como Eu contextualiza a construção de uma linguagem artística brasileira, cosmopolita e internacional. A mostra gira em torno de um contexto de nacionalidade, como ele é identificado e como ele é anulado. Composto por obras de artistas chaves da contemporaneidade, como Nelson Leirner, Lygia Pape e o designer Alexandre Wollner, as obras apresentadas são compostas por instalações, cartazes, vídeos e quadros. Podemos experenciar perfeitamente o que a curadoria deseja passar ao ver a obra de Chacal – Caro Barato, sem data – na qual encontra-se duas pequenas esculturas, formadas por um papel plástico, fixas a uma radiola, que gira ao som de uma música que toca no ambiente. Outro trabalho que verte todo este círculo é o Oriente/Ocidente de Antonio Dias, na qual ele forma estes pólos com papel vegetal, pregado em barbante sobre um papel cartão.

Antonio Dias – Oriente/Ocidente, 1972


Fernando Cocchiarale

Cavalos de Tróia apresenta um recorte da crítica embutida nos processos da concepção, produção da obra e sua inserção no sistema artístico. A proposta é exatamente questionar os fundamento desse sistema, sua ideologia e a ideologia do objeto artístico – contrampondo a noção mercadológica da arte, que é pautada hoje em dia. Com propostas ousadas, desde a obra de Vitor Cesar – Artista é Público, 2011 – na qual simula-se uma fachada de edifícil em cima da recepção da instituição; vídeos e relatos de Paulo Brusky e uma caixa de música de Matheus Leston – Quinteto, 2011 – onde foi criado um circuito com copos de vidro ligados a um circuito eletrônico, fazendo soar músicas aleatoriamente.

Matheus Leston – Quinteto, 2011


Paulo Herkenhoff

Contrapensamento Selvagem é uma mostra sensorial. Pensada para ser diferente de outras exposições de arte contemporânea, visa ser experenciada como espaço, uma única instalação, como se todas as obras se interligassem. A montagem rejeita a forma histórica de instalação da exposição. O lugar do visitante é no meio da arte com um mínimo possível das mediações de poder. Não e possível distinguir uma obra da outra. A proposta curatorial é de um estado de “não pureza conceitual”, na qual pode-se apontadar algumas perspectivas em comum, como a “libido intratável”, a “deposição do sujeito como lugar de poder” e a violentação política da violência”. Com obras de artistas como Yuri Firmeza, Armando Queiroz e Jonathas De Andrade, é uma mostra digna de ser experenciada.



Imagens tiradas da exposição


A exposição também inclui uma série de performances, cuja programação e horários podem ser conferidos no site do Itaú Cultural!



[Texto originalmente produzido para o site FalaCultura e publicado em 6 de novembro de 2011]

quarta-feira, 31 de julho de 2013

em nome dos artistas!

A Fundação Bienal de São Paulo comemora os seus 60 anos com uma épica exposição com alguns dos artistas mais importantes da contemporaneidade. A exposição Em Nome dos Artistas – Arte Contemporânea Norte-Americana na Coleção Astrup Fearnley, exibe obras que pertencem ao acervo do Museu norueguês Astrup Fearley, situado em Oslo. Com curadoria do diretor do museu, Gunnar Kvaran, a mostra abarca 219 trabalhos – dos últimos 30 anos – de 51 artistas americanos.

Embora o nome da exposição indique, não estão presentes apenas artistas norte-americanos. Nomes icônicos como Damien Hirst, Jeff Koons, Cindy Sherman e Félix Gonzalez-Torres se misturam com artistas mais jovens – mas nem por isso desconhecidos – como Nate Lowman, Dan Colen, Matt Johnson e Paul Chan.

A exposição divide-se em três capítulos. O primeiro – situado no terceiro andar do Pavilhão – é uma reunião de “exposições individuais” de artistas célebres que conquistaram seu lugar no mundo da arte nos anos 80 e 90. Entre eles, podemos citar…


Cindy Sherman!

Fotógrafa norte-americana, nascida em 1954, é famosa por produzir fotografias dela mesma transformada. Usando adornos como perucas, maquiagem e roupas, ela simula diferentes tipos de pessoas. Sherman possui cerca de 16 fotografias expostas na Bienal.



Jeff Koons!

Artista plástico norte-americano, nascido em 1955, Koons é considerado um dos mais significativos artistas contemporâneos dos Estados Unidos. Dizem alguns que sua arte é um kitsch colorido, mas seu uso de materiais comuns desafiou o conceito de estética e expandiu o fenômeno dos readymades. Koons possui de 11 de suas obras expostas na Bienal.



Félix Gonzalez-Torres!

Cubano, mas radicado nos Estados Unidos, Gonzalez-Torres, falecido em 1996, combina impulsos do conceitualismo, do minimalismo e da arte de engajamento político, para criar obras que foram descritas como “democráticas”. Elas podem tomar a forma de cartazes em lugares públicos, grandes pilhas de bala, pilhas de cartazes que o público é convidado a levar para casa, ou objetos que quase se mesclam com o ambiente, por exemplo, lâmpadas, quebra-cabeças ou relógios. Suas obras evidenciam experiências pessoais fortes ou atitudes políticas, mas sem se perder numa retórica emocional. Com três obras expostas na Bienal, Gonzalez-Torres debate questões sobre os domínios público e privado, direitos autorais, originalidade e o sentido da institucionalização.



O segundo capítulo é uma investigação sobre artistas contemporâneos norte-americanos emergentes. Apresentando uma imensa quantidade de trabalhos, que vão desde pinturas até video-instalações, estes artistas modelam o universo artístico contemporâneo. Dentre eles, podemos citar:


Nate Lowman!

Artista plástico norte-americano, nascido em 1979, Lowman produz obras baseadas numa análise minuciosa de imagens e objetos que, daí, são combinados em novas maneiras. As imagens são coletadas em nosso ambiente: de jornais, notícias televisivas ou da internet. Lowman nasceu e cresceu nos Estados Unidos, por isso suas referências são extraídas de um contexto norte-americano. Nate Lowman tem mais de vinte obras expostas na Bienal.



Rirkrit Tiravanija!

Argentino, mas residente em NY, Tiravanija, nascido em 1961, é um artista que em geral realiza obras de arte não-tradicionais nas quais o público é convidado à participar numa refeição ou numa festa. A obra com o estranho título No Futuro Tudo Será Cromado parece um cubo branco dentro de um cubo branco da sala de exposição do museu. Nas paredes puras e brancas estão penduradas imagens minimalistas de texto. Para participar nele, temos que transgredir as regras convencionais dos museus de arte e tocar as imagens na parede.



Paul Chan!

Paul Chan, nascido em 1973 (na China, mas mora em NY) é um dos mais inovadores videoartistas de nossa era. Ele chamou a atenção do mundo da arte com sua série intitulada The 7 Lights, que foi criada tomando como pano de fundo o 11 de setembro e a guerra do Iraque. Essa série se distingue do conjunto de videoarte por causa do uso que ele faz da luz, da sombra e de ângulos de projeção excepcionais. O artista tem oito obras expostas na Bienal.



O terceiro – e último – capítulo apresenta obras do renomado artista inglês Damien Hirst, cujos laços conceituais ligados a artistas norte-americanos mais velhos e sua influência sobre uma geração mais jovem fazem desta uma mostra complementar fascinante dentro da exposição.


Damien Hirst!

Nacido em 1965, na Inglaterra, Hirst apresenta uma arte diferente, com elucubrações sofisticadas, mas brutais, sobre a morte e a efemeridade da vida, a criatividade artística e a vida na sociedade de consumo. Pode-se dizer que a arte de Hirst expande e refina o readymade, no sentido em que suas matérias-primas são em geral objetos pré-existentes que ele molda sob uma luz nova e inesperada.



Uma ótima oportunidade que nós, brasileiros, temos de mergulhar no mundo da fascinante arte contemporânea!



[Texto originalmente produzido para o site FalaCultura e publicado em 6 de outubro de 2011]

quarta-feira, 13 de junho de 2012

o que é contemporâneo?

No firmamento que olhamos de noite, as estrelas resplandecem circundadas por uma densa treva. Uma vez que no universo há um número infinito de galáxias e de corpos luminosos, o escuro que vemos no céu é algo que, segundo cientistas, necessita de uma explicação. É precisamente da explicação que a astrofísica contemporânea dá para esse escuro que gostaria agora de lhes falar. No universo em expansão, as galáxias mais remotas se distanciam de nós a uma velocidade tão grande que sua luz não consegue nos alcançar. Aquilo que percebemos como o escuro do céu é essa luz que viaja velocíssima até nós e, no entanto, não pode nos alcançar, porque as galáxias das quais provém se distanciam a uma velocidade superior àquela da luz.


Perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar e não pode fazê-lo, isso significa ser contemporâneo. Por isso os contemporâneos são raros. E por isso, ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida pra nós, distancia-se infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual num compromisso ao qual se pode apenas faltar.

[Agambem]

e x p e r i ê n c i a

Visto ao vivo não era o mesmo que através de uma imagem congelada. O azul brilhante pulsava em direção aos meus olhos e aquele mar de tons monocromáticos fazia-me sentir viva. Por um instante me tornei melhor amiga do artista, era como se ele me contasse sua história, como um segredo dito entre cafés e sofás.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

mesmo com todo o mito...

É engraçado pensar nos mitos que os artistas carregam ao longo de sua jornada artística. O megalomaníaco, o romântico, o ativista, o pop-star, o mercadológico, o contra-cultura... E quando conhecemos algum artista, toda essa bagagem - criada pela mídia, pela crítica - os acompanha. E é assim que os recebemos e é assim que os aceitamos. Ponto final.

Gosto de conhecer um artista do zero. Gosto de eu conhecer o artista; de tirar minhas próprias conclusões sobre seus trabalhos. E, com o tempo, toda a história midiática se revela, claro. Mas, o que muitos não sabem, é que o que realmente importa é o que a obra de arte te transmite - não é o que o artista pensou ao fazê-la e o que ele quer passar com aquilo - mas o que você sente quando está diante dela. Naquele momento, só basta você e a obra. E o que surgirá, será devido ao repertório que você carrega, sobre os seus pensamentos, as suas críticas, a sua visão de mundo - e foda-se que a mídia afirma o contrário.

Recentemente, algo me fez pensar bastante sobre este ponto...

Damien Hist. Eu conhecia seus trabalhos, sua história de vida, o que a mídia sempre passou à seu respeito, o que os críticos escreveram... Mas uma coisa é o artista, a outra são suas obras. Recentemente tive a oportunidade de ver muitas de suas obras, na exposição Em Nome dos Artistas (comemorativa dos 60 anos da Fundação Bienal de São Paulo). E, naquele momento, tudo fez sentido; tudo fez sentido pra mim. Naquele momento, todo o mito de artista megalomaníaco se esvaiu. Ao ver suas obras ao vivo, algo mudou. Os questionamentos sobre a morte e as formas em que podem ser interpretadas; e principalmente seus trabalhos com o uso de animais - pra quem não sabe, sou vegetariana e fui ativista muitos anos -, ao meu ver, aqueles trabalhos questionam a natureza da utilização de animais em toda uma sociedade hipócrita. E quem poderá dizer que esta visão está errada?

Mãe e Filho Divididos, 1995

Estar diante de uma obra é algo único. Você pode ver fotos e ler sobre ela, mas você nunca a conhecerá verdadeiramente até vê-la pessoalmente.

Uma obra de arte é o que você vê dela e não o que os outros dizem.