quarta-feira, 7 de agosto de 2013

cinco mostras em uma só exposição: caos e efeito

Não haveria nome melhor para descrever: caos e efeito (cujo título ironiza com o fato de não ser possível atingir as causas, mas apenas - parcialmente e de forma diversa - os efeitos). Abarcando temas e questões do mundo contemporâneo, a exposição reúne, com grande êxito, diversas visões da produção artística nacional. Com um toque de ousadia, o Itaú Cultural reuniu cinco mostras – com cinco curadorias! - em uma única exposição. A cada curadoria, uma nova sensação, um novo mundo.

É sempre inquietante pensar em arte contemporânea. Dúvidas a respeito da liguagem artística, o terreno da produção, o quesito histórico embutido, o estético e o conceitual, estão sempre permeando a mente do público. E é exatamente neste ponto que a Caos e Efeito visa apontar. Após ser realizada uma pesquisa sobre os dez curadores mais atuantes no cenário brasileiro, cinco deles – Fernanco Chocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos, Paulo Herkenhoff e Tadeu Chiarelli - foram convidados para realizar a Caos e Efeito e trabalhar em frentes temáticas, elaboradas como um projeto colaborativo. A exposição abriga aproximadamente 150 obras de 81 artistas.


Tadeu Chiarelli

O fio condutor da mostra Projetar o Passado; Recuperar o Furuto de Chiarelli é a tênue linha entre o documental e o ficcional. É a forma como os artistas lidam com o passado e elaboram fatos da história coletiva e/ou individual. Com pinturas, vídeos, fotografias e cartazes, os artistas brincam com a noção de eventos construídos e um passado capturado. Algumas vezes, de uma forma quase documental, como o trabalho da Lais Myrrha – Bestiário, 2005 -, na qual, em uma televisão, observa-se uma junção de diversas reportagens de jornais montadas, uma acima da outra – tanto imagens como sons. Outras vezes, capturada quase que em forma de memórias pessoais, como no trabalho do Alberto Bitar – Sobre Distâncias e Incômodos e Algumas Tristezas, 2009 -, quando o artista narra um dia em sua residência, como memórias de um tempo transitório, se esvaindo; lembranças projetadas no lar, no tempo, nos objetos da casa.

Alberto Bitar - Sobre Distâncias e Incômodos e Algumas Tristezas, 2009


Moacir dos Anjos

As Ruas e as Bobagens contém obras que enfatizam o cotidiano, rompendo a fronteira entre o ambiente artístico e o dia-a-dia, os artistas buscam mostrar como os objetos da vida comum também podem ser vistos como arte, poetizando o urbano. Esta curadoria é interessante exatamente por expor obras que criam uma relação de identificação com o observador. Isso pode ser sentido na instalação de Marepe – Rio Fundo, 2003 – na qual busca representar mesas de bar, com bedidas alcóolicas dispostas; e nos panfletos de Paulo Nazareh – Série de Panfletos, sem data – na qual ele lança propostas de fruição no espaço urbano.

Paulo Nazareh – Série de Panfletos, sem data


Lauro Cavalcanti

Eu Como Eu contextualiza a construção de uma linguagem artística brasileira, cosmopolita e internacional. A mostra gira em torno de um contexto de nacionalidade, como ele é identificado e como ele é anulado. Composto por obras de artistas chaves da contemporaneidade, como Nelson Leirner, Lygia Pape e o designer Alexandre Wollner, as obras apresentadas são compostas por instalações, cartazes, vídeos e quadros. Podemos experenciar perfeitamente o que a curadoria deseja passar ao ver a obra de Chacal – Caro Barato, sem data – na qual encontra-se duas pequenas esculturas, formadas por um papel plástico, fixas a uma radiola, que gira ao som de uma música que toca no ambiente. Outro trabalho que verte todo este círculo é o Oriente/Ocidente de Antonio Dias, na qual ele forma estes pólos com papel vegetal, pregado em barbante sobre um papel cartão.

Antonio Dias – Oriente/Ocidente, 1972


Fernando Cocchiarale

Cavalos de Tróia apresenta um recorte da crítica embutida nos processos da concepção, produção da obra e sua inserção no sistema artístico. A proposta é exatamente questionar os fundamento desse sistema, sua ideologia e a ideologia do objeto artístico – contrampondo a noção mercadológica da arte, que é pautada hoje em dia. Com propostas ousadas, desde a obra de Vitor Cesar – Artista é Público, 2011 – na qual simula-se uma fachada de edifícil em cima da recepção da instituição; vídeos e relatos de Paulo Brusky e uma caixa de música de Matheus Leston – Quinteto, 2011 – onde foi criado um circuito com copos de vidro ligados a um circuito eletrônico, fazendo soar músicas aleatoriamente.

Matheus Leston – Quinteto, 2011


Paulo Herkenhoff

Contrapensamento Selvagem é uma mostra sensorial. Pensada para ser diferente de outras exposições de arte contemporânea, visa ser experenciada como espaço, uma única instalação, como se todas as obras se interligassem. A montagem rejeita a forma histórica de instalação da exposição. O lugar do visitante é no meio da arte com um mínimo possível das mediações de poder. Não e possível distinguir uma obra da outra. A proposta curatorial é de um estado de “não pureza conceitual”, na qual pode-se apontadar algumas perspectivas em comum, como a “libido intratável”, a “deposição do sujeito como lugar de poder” e a violentação política da violência”. Com obras de artistas como Yuri Firmeza, Armando Queiroz e Jonathas De Andrade, é uma mostra digna de ser experenciada.



Imagens tiradas da exposição


A exposição também inclui uma série de performances, cuja programação e horários podem ser conferidos no site do Itaú Cultural!



[Texto originalmente produzido para o site FalaCultura e publicado em 6 de novembro de 2011]

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